quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os santos do ofício

A rotina de quem aproveita as eleições para conseguir um emprego temporário

O relógio marca 13 horas de uma segunda-feira de céu nublado e temperatura de 23º. A casa pintada em tons de bege é ornamentada com centenas de adesivos coloridos, placas e bandeiras. Do lado esquerdo, quase encosta no ponto de ônibus. Do outro, fica uma das maiores igrejas católicas do bairro de Campinas, no município de São José.


O entra e sai é constante. Cerca de quinze pessoas estão do lado de fora, a grande maioria jovem. Não é uma festa. É um comitê político. Grudada na Paróquia Santo Antônio há um local de votação.

As pessoas reunidas ao redor da casa fazem parte de uma das equipes responsáveis por percorrer os bairros do município balançando bandeiras e distribuindo panfletos, os santinhos dos candidatos.

Cada equipe é composta por dez pessoas, contando com o motorista responsável pela Kombi e a coordenadora de rua, nome que se dá para a pessoa responsável por supervisionar a equipe e mapear os bairros.

Entre os encarregados pela panfletagem, Ana Paula Machado é uma novata. Sua primeira tentativa de trabalho em eleições foi aos 19 anos. Na época estava grávida e desmaiou no comitê, não foi aceita para o emprego. Agora, aos 23 anos, faz o turno das 13 às 18 horas. Foi parar ali quase que por acaso. Como mora pelas redondezas, passou em frente da casa e resolveu entrar, dessa vez acabou ficando.

A rota exige resistência física. Ana Paula percorre em dupla cerca de quatro ruas por dia, indo de casa em casa para entregar o santinho do candidato. Ela prefere assim a ficar em um ponto fixo na rua esperando pela boa vontade dos transeuntes: “Na rua muitas vezes eles não pegam”.

Essa intimidade forçada acaba mostrando que nem todos os moradores são anfitriões agradáveis.

Ver os santinhos rasgados e ser alvo das pessoas frustradas com a situação política atual é rotina para quem trabalha nas campanhas: “Uma senhora reclamou para mim da aposentadoria, que era muito pouco e que para pagar a nós eles têm dinheiro. Ela rasgou o panfleto na minha frente”.

Os santinhos possuem essa alcunha por serem originalmente utilizados para a impressão de imagens de santos católicos. Os cartões geralmente apresentam o retrato do santo em um lado e do outro uma mensagem relacionada.

Os panfletos publicitários utilizados pelos candidatos seguem a mesma linha. Um lado mostra o rosto do político e seu número e, no verso, os candidatos da coligação ou um texto de apresentação e suas propostas, depende do quanto o político tem a falar.

O pagamento pelo trabalho de campanha na rua é de R$30 diários durante a semana e R$40 aos sábados. No turno de Ana Paula é feita uma pausa às 15h30 e cada um recebe uma garrafa de água.

Não há exigência quanto ao número de panfletos distribuídos, em função disso, a meta é cobrir todos os bairros de São José. A coordenadora de rua, Kete Machado, está indo para sua quarta semana de panfletagem e iniciando a segunda volta pelo município. Nem todos os lugares são de fácil acesso: “No Jardim Zanelato não nos deixaram entrar. Quem faz a campanha lá é uma moradora do local”.

Por volta das 13h20, Kete chama os jovens para embarcar com ela no veículo, dessa vez o destino é o bairro Bela Vista. Ana Paula e os outros se acomodam para mais uma rodada de santinhos. Se eles fazem milagres? Isso só os políticos podem responder.

Por Janine Souza Costa

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